Semiótica e Informação – Júlio Pinto
Demonstra-se a necessidade de se pensar também semioticamente a noção de informação,
através do argumento básico de que toda a informação a que temos acesso é
necessariamente veiculada através de signos em três modos, a que chamamos de
primeiridade, segundidade e terceiridade, as três categorias da experiência de acordo com
C. S. Peirce. Conclui-se que, do ponto de vista semiótico, a informação somente se constitui
a partir de sua inserção, por um sujeito, no processo de semiose.
O presente artigo visa repensar a importância dos estudos semióticos na prática
comunicacional, entendidos como lógica do conhecimento e da produção de sentido,
passíveis de serem revistos aqui como uma noção interdisciplinar de cultura que abrange
os mais diversos campos das áreas do fazer e do dizer humano. Promove a reflexão entre as teorias mais conhecidas e os estudos ligados à cultura e predominantemente à noção de
semiosfera, criada por Iuri Lotman num diálogo com a posição já clássica de Umberto Eco,
onde todo ato de significação é um ato de comunicação e, conseqüentemente, de cultura.
Recupera, igualmente, algumas das contribuições deste autor naquilo em que pretende
atender à multiplicidade, à diversidade, à polissemia de significações, que revestem as mais
diferentes óticas do viés cultural somado ao comunicacional.
Ao longo da história do pensamento comunicacional, talvez nenhum outro conceito tenha se
tornado tão afamado e citado quanto a “sociedade do espetáculo”, tal como foi definido por Guy Debor no livro do mesmo nome. Do uso quase que indiscriminado deste pensamento resulta a sua transformação numa espécie de aforismo válido para delimitar uma série de fenômenos sociais, mas essa impropriedade indica um mecanismo não incomum no âmbito da produção científica, ou seja, a transformação de determinadas idéias em metáforas conceituais. Por si só, a concepção subjacente a uma metáfora conceitual carrega uma enorme contradição: ao tentar transformar um conceito numa metáfora, busca-se construir uma imagem que, de alguma forma, esgote a diversidade dos modos de ser do objeto representado. Cria-se assim uma analogia ao conceito a fim de facilitar sua absorção, mediante o estabelecimento de um conjunto de similaridades facilmente aplicáveis a um grupo significativo de fenômenos sociais. Todavia, como toda imagem é sempre parcial em relação ao seu objeto, nunca será possível representar a totalidade dele, por mais gerais e amplos que sejam os paralelismos suscitados pela representação. Desse modo, ao ser transformada numa metáfora conceitual, a “sociedade do espetáculo” parece desconsiderar justamente esta parcialidade representativa. Ao definir a sociedade como um grande espetáculo, Guy Debord nega a realidade social do objeto, como se o espetáculo fosse uma mimese de uma série de fenômenos sociais passíveis de serem esgotados numa única representação. Enquanto os conceitos constituem uma síntese, na qual, por meio do raciocínio lógico-predicativo, busca-se apreender o porquê do modo de reagir de um conjunto de ocorrências observáveis, sem nunca se confundir com elas, a metáfora conceitual estabelece uma imagem que almeja estar no “lugar do objeto”, abarcando-o por completo. Neste caso, não são os objetos que indicam os traços a serem considerados na caracterização do espetáculo, uma vez que eles são gerados pela própria metáfora que, por sua vez, também não se define com clareza.
A filosofia e seus intercessores: Deleuze e a não-filosofia – Jorge Vasconcelos
Pretendo relacionar o problema do pensamento com a criação artística em Gilles Deleuze, mostrando a importância de um pensamento diferencial, proposto pelo filósofo como nova imagem do pensamento, isto é, um pensamento que privilegia a idéia de diferença para
instaurar novos ângulos e perspectivas do real. Essa aliança entre a criação artística e a produção filosófica propicia condições de possibilidade para formular uma leitura da obra deleuziana em que esse pensamento faz uma vertiginosa incursão nos domínios não-filosóficos na constituição de sua démarche. Investigarei, neste sentido, a noção de “intercessores”, que, mesmo pouco tematizada na obra do filósofo, entendo tratar-se de idéia fundamental para a questão aqui em pauta.
Os Equívocos de Peirce – Ciro Marcondes Filho
Este texto pretende mostrar os equívocos, deficiências e inexatidões da teoria semiótica de C. S. Peirce tão utilizada em pesquisas sobre imagens, textos e expressões em geral no Brasil. O autor problematiza certos conceitos-chave dessa teoria e prega a necessidade de se realizar uma investigação rigorosa de seus escritos. Para isso, ele se propõe a dar início a essa tarefa discutindo o conceito de “interpretante”.
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